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Desmatamento na Amazônia cresce 34% no período de um ano, indicam dados do Inpe

Para o Observatório do Clima, se a variação entre o Deter e o Prodes seguir a tendência histórica, o desmatamento pode chegar a 13 mil km² ? o que seria o maior índice de 2006


Desmatamento na Amazônia cresce 34% no período de um ano, indicam dados do Inpe
Foto: AFP / Carl de Souza

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O desmatamento na Floresta Amazônica cresceu 33% entre agosto de 2019 e julho de 2020 em comparação com o mesmo período entre 2018 e 2019, indicam dados do sistema de monitoramento por satélite Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Neste período, um total de 9.205 km² de floresta foi derrubada, um aumento expressivo em relação aos 6.844 km² registrados no período anterior. É o maior indice desde o início da série do Deter, que começou em 2015.

Os números do Inpe levam em conta o balanço fechado de julho disponível na plataforma Terra Brasilis, que compila os alertas de desmatamento do Deter. A série histórica é revisada ao final do ano por outro sistema do instituto, o Prodes, que usa imagens de satélites com maior resolução. Historicamente, os números do Deter são mais conservadores, uma vez que suas imagens de menor resolução são utilizadas para orientar o Ibama e os governos federal e estaduais a combater ações criminosas no bioma.

Isso significa que, se essa tendência se confirmar na divulgação do Prodes neste ano, a Floresta Amazônica pode superar o recorde de 2008, quando o Inpe registrou 12.911 km² de desmatamento. A taxa de desmatamento do Prodes para o período de agosto de 2018 a julho de 2019, por exemplo, foi de 10.129 km², bem acima dos pouco mais de 6 mil km² indicados pelo Deter.

Os números de julho, que ainda não contabilizam o dia 31, indicam uma leve queda no índice em comparação com o mesmo mês no ano passado: são 1.654 km², enquanto o Deter registrou 2,2 mil km² em 2019.

O Brasil está sob pressão de governos e investidores estrangeiros para assumir o compromisso com o combate à degradação da Amazônia. Nesta semana, foi revelada a existência de um ofício do Ministério do Meio Ambiente que sugeria alterar a meta de reduzir o desmatamento em 90% até 2023, presente no plano plurianual do governo. A proposta da pasta detalhada no documento, revelado pelo jornal Estado de S. Paulo e confirmado pelo EXTRA, foi rejeitada pelo Ministério da Economia.

Além da derrubada da floresta, o bioma também sofre com as queimadas, muitas vezes utilizadas por grileiros para "limpar" as áreas desmatadas. Na última quinta-feira, por exemplo, a Amazônia registrou um recorde de focos de incêndio para o mês de julho dos últimos 15 anos. Foram 1.007 pontos de calor identificados pelo Inpe.

O problema também tem afetado duramente outro bioma brasileiro, o Pantanal. Reportagem de O Globo publicada nesta sexta-feira mostrou, a partir de um levantamento obtido pelo jornal, que o Ibama gastou, até o dia 30 de julho, apenas 19% de seus recursos previstos para prevenção e controle de incêndios florestais a despeito da crise do fogo. Além disso, um fundo de R$ 50 milhões repassado pela Lava-Jato ao instituto em maio também teve apenas 26% dos seus recursos utilizados.

ONGs criticam governo

Para o Observatório do Clima, se a variação entre o Deter e o Prodes seguir a tendência histórica, o desmatamento pode chegar a 13 mil km² — o que seria o maior índice de 2006 e três vezes superior à meta fixada pela Política Nacional de Mudança do Clima para 2020, de 3.925 km², prevista na lei 12.187 de 2009. A ONG lembra, ainda, que é o segundo ano seguido que o Deter aponta as maiores taxas desde 2008 e que os dados ocorrem mesmo depois da presença das Forças Armadas na Amazônia por três meses.

"Quem lucra com isso é o desmatador ilegal, o grileiro, o investidor no garimpo sem controle que explora trabalho escravo. Se quisesse controlar o desmatamento, e essa realmente não parece ser a intenção, o governo retomaria o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia e reforçaria a atuação do Ibama e outros órgãos ambientais, no lugar de gastar dinheiro com a atuação teatral das Forças Armadas", disse Suely Araújo, especialista-sênior em Políticas Públicas do Observatório do Clima, por meio do comunicado.

Marcio Astrini, secretário-executivo da ONG, lembra ainda que os índices comprometem as metas já firmadas pelo Brasil no combate às mudanças climáticas.

"Os dados do Inpe (...) também nos desviam da rota do Acordo de Paris, o que criará uma série de dificuldades comerciais para o Brasil no período crítico de recuperação econômica no pós-pandemia. O crime tomou conta da Amazônia, incentivado pelo próprio governo Bolsonaro", afirmou Astrino na mesma nota.

A aproximação do governo com grupos ilegais na Amazônia, como na visita do ministro Ricardo Salles a madeireiros em julho de 2019 e, mais recentemente, a garimpeiros, como na última quarta-feira.

"A grilagem de terras públicas é um vetor do desmatamento, que é estimulado com a expectativa de anistia e legalização", pontuou Brenda Brito, pesquisadora-associada do Imazon.

Raul Valle, diretor de Justiça Socioambiental do WWF-Brasil, afirmou por meio de nota que é preciso uma coordenação coesa do governo, o que implica no abandono de um discurso que incita a atuação ilegal na Amazônia.

"O desmatamento não vai diminuir apenas com pirotecnia e palavras de ordem. Enquanto a sensação de impunidade continuar alta, ele continuará subindo. As pessoas enxergam claramente a contradição entre discurso e prática. De nada adianta mobilizar militares se, na outra ponta, o mesmo governo tenta anistiar invasores de terras públicas e pune fiscais do Ibama reconhecidos por atuarem contra infratores ambientais”.






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