Condsef/Fenadsef
Esperada com preocupação, a reforma Administrativa que o Governo Federal deve apresentar como Proposta de Emenda à Constituição pode acabar com a estabilidade dos servidores públicos federais. O argumento é de modernização e aprimoramento dos serviços, além de combate a supostos privilégios.
Dados da Corregedoria Geral da União, entretanto, apontam que desde 2003, 16.681 servidores e empregados públicos foram expulsos de suas funções. O total inclui as penalidades de demissão, cassação de aposentadoria e destituição de cargo em comissão ou função comissionada.
Deste número, 7.290 foram considerados inelegíveis, ou seja, proibidos de se candidatar a cargos políticos eletivos. Outros 3.768 foram permanentemente impedidos de ocupar cargos administrativos na União. Apenas 10,2% foram reintegrados ao serviço, por anulação da penalidade.
O artigo 132 da Lei 8.112/1990 dispõe sobre casos em que os servidores públicos da União podem ser demitidos. São eles:
São 13 motivos que podem levar à demissão ou à cassação de aposentadoria de trabalhadores da União. De acordo com os registros da CGU, grande parte dos motivos das expulsões efetivadas não é detalhada, mas categorizada de forma abrangente como "Outros motivos", que contabiliza 56,3% dos casos. A Corregedoria destaca corrupção, com 30,68% dos casos, e inassiduidade, com 11,15%. O motivo de desídia, que significa indolência, ociosidade e preguiça, ponto mais utilizado para justificar o ataque à estabilidade, soma 1,33% das demissões desde 2003.
Levantamento da Condsef/Fenadsef no Senado Federal apurou que 27,1% dos parlamentares não tem definição de posicionamento quanto ao tema da estabilidade. Outros 37% não quiseram se pronunciar sobre a matéria, o que demonstra teor polêmico da discussão. 19,75% defendem a estabilidade, enquanto 16% são contrários (veja quadro do levantamento).
Na Casa, consta no Plenário para votação, em regime de urgência, o PLS 116/2017, de autoria da senadora Maria do Carmo Alves (DEM-SE), aprovado pelas comissões de Constituição e Justiça e de Assuntos Sociais. O projeto dispõe sobre demissão de servidores em caso de insuficiência, que seria identificada por meio de avaliações periódicas realizadas por órgão e entidades da Administração Pública.
Este ponto preocupa a categoria de servidores e empregados públicos, tendo-se em vista que está posta a possibilidade de instrumentalização da avaliação para fins de perseguição política. Neste ano, por exemplo, chamam atenção os casos do Ibama e do Inpe, que tiveram servidores exonerados sem justa causa. Responsável por multar o presidente Bolsonaro por pesca irregular em 2018, o servidor José Augusto Morelli foi expulso em março deste ano. À imprensa, Morelli declarou que o motivo foi vingança pessoal.
Ex-presidente do Inpe, Ricardo Galvão foi exonerado do cargo após divulgar dados de aumento do desmatamento na Amazônia. Bolsonaro argumentou que as informações deveriam ser discutidas previamente com o Planalto antes de publicizadas. Além desses casos, o Inpa também vivenciou experiência semelhante. Após participar de protestos que pediam mais investimentos ao órgão de ciência e pesquisa, o servidor Jorge Luiz Ramos Lobato, secretário de administração do Instituto, foi afastado do cargo e transferido para outro setor, incompatível com sua atuação.
Apesar da indefinição de apoio no Parlamento à questão da estabilidade, o resultado da votação da reforma da Previdência mostra que a PEC de alteração administrativa pode passar com facilidade pelo Congresso. Sendo assim, a Condsef/Fenadsef convoca sua base para pressionar desde já os parlamentares da Câmara e do Senado, para conscientizá-los da importância da estabilidade dos servidores (veja lista completa de contatos dos Senadores e dos Deputados).
Além da PEC da reforma Administrativa e do PLS 116/2017, outros três projetos que dispõem sobre demissão de servidores públicos da União tramitam no Congresso Nacional. São eles o PLP 51/2019, de autoria do deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP); o PLP 248/1998, de autoria do Poder Executivo (gestão FHC) e a PEC 438/2018, de autoria do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ). Das propostas, o que mais preocupa é o texto de FHC, que já está pronta para ir a Plenário.