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Rota do almoço barato



Restaurantes que atendem servidores públicos oferecem bandejão com preços que variam de R$ 7,97 a R$ 9,88 o quilo. Licitações e peso das compras no atacado jogam valores para baixo e beneficiam clientes

Luciano Pires

Pressionadas por licitações cada vez mais exigentes, as empresas que exploram o varejo de alimentação na http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/pri-0106-1001.jpgEsplanada dos Ministérios trabalham com margens de lucro tão reduzidas que dificilmente sobreviveriam fora dali. Vender barato é pré-requisito nesse tipo de negócio e um mandamento seguido à risca pelos 10 restaurantes instalados no centro administrativo de Brasília. Na segunda reportagem da série sobre os self-services que atendem o funcionalismo federal, o Correio mostra como é possível manter-se de pé comercializando comida a menos de R$ 10 o quilo.

A regra número um é adquirir matérias-primas em quantidade e, sempre que possível, pagar à vista. Os estabelecimentos têm fornecedores fixos, compram sempre e, por serem considerados parceiros vips, desfrutam de vantagens competitivas em relação aos self-services comuns. “Tenho um poder de http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/pri-0106-1003x.jpgbarganha muito grande porque compro bastante”, diz Lindolfo Neto, sócio do restaurante Manancial, grupo que administra cinco restaurantes na Esplanada.

Sem as pechinchas semanais no atacado e uma negociação bemfeita, admitem os empresários, ficaria praticamente impossível atuar. Ainda que o movimento de clientes seja constante na maior parte do ano — o que assegura um fluxo de caixa estável e confiável —, oferecer comida a peso por R$ 7,97, como é no Ministério das Comunicações/Transporte, a R$ 8,18, no caso do Itamaraty, ou mesmo a R$ 9,88, como ocorre no Ministério das Cidades/Desenvolvimento Agrário/Esporte, não é tarefa simples. Os contadores que o digam. “No http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/pri-0106-1003.jpgperíodo de férias, é terrível. O movimento cai cerca de 45% e a receita cai junto”, completa Neto.

As preocupações do empreendedor, no entanto, vão muito além das planilhas de custo e do equilíbrio das contas. As prestadoras de serviço têm uma série de obrigações invisíveis que precisam ser respeitadas antes, durante e depois de vencida a licitação. Dos itens do cardápio até o perfil das instalações, tudo é alvo de interesse para o contratante. O termo de acordo firmado entre as partes estabelece, inclusive, as normas mínimas de qualidade, determina a regularidade do serviço e prevê como e quando as renegociações (aditivos) acontecem. De um jeito ou de outro, o modelo tenta preservar os interesses http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/pri-0106-1004.jpgtanto de quem explora a atividade, como de quem a contrata.

Supervisão  - Alguns ministérios monitoram de maneira indireta o dia a dia dos self-services, delegando funções, cobrando resultados e respostas do gestor do contrato (servidor encarregado de zelar pelas regras). Outros, porém, personalizam os cuidados. O Ministério da Educação, por exemplo, chega ao extremo de fazer a coleta de amostras dos alimentos servidos pelo restaurante ou guardados sob refrigeração. “Também é conferida diariamente a medição da temperatura dos balcões térmicos e dos pratos servidos”, informou o MEC por meio de nota. Há ainda uma nutricionista que acompanha e orienta a higienização http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/as10-2a.jpgdos itens e o treinamento dos funcionários.

Já no Ministério da Agricultura, profissionais provam a comida, guardam amostras e atestam a qualidade dos produtos — trabalho que também é feito de forma paralela pelos restaurantes. Os resultados são tabulados e ficam disponíveis ao público, ao órgão contratante e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em caso de descumprimento do que estabelece o contrato, o órgão pode aplicar multas, suspender, substituir ou mesmo solicitar o cancelamento do serviço.


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Leia na próxima segunda-feira: Restaurantes no Legislativo e Judiciário, e as variações dos tíquetes-alimentação dos Três Poderes 

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Mais sabor nos pratos

Desde o ano passado, por causa do aumento do nível de insatisfação dos servidores em relação a alguns restaurantes, órgãos públicos começaram a realizar pesquisas de opinião. Pioneiro, o Ministério da Agricultura, em 2008, fez dois levantamentos com os consumidores. Segundo o estudo, 80% dos entrevistados se mostraram ‘muito satisfeitos’ com as refeições.

Medir a qualidade da comida a partir dos gostos e impressões das pessoas faz parte do plano das empresas e dos próprios ministérios — além de uma tendência cada vez mais forte nesse mercado.

A “investigação” contribui para que erros do passado não se repitam e acaba livrando a Esplanada de colecionar novas histórias de fracassos.

O restaurante do Ministério da Fazenda está fechado desde fevereiro. A empresa vencedora da licitação não conseguiu cumprir o contrato, os clientes passaram a reclamar. O espaço antes ocupado por mesas, cozinha e balcões passa por reforma. A intenção do órgão é abrir uma nova concorrência para que outro restaurante explore o serviço.

No Ministério da Justiça, a situação é semelhante. O restaurante está fechado desde julho de 2008. O contrato venceu e não foi renovado. Motivo: de acordo com o ministério, “devido ao grande volume de reclamações dos usuários sobre a qualidade da comida”. O trauma foi tão grande que o órgão decidiu dar uma guinada de profissionalismo.

Para melhorar a qualidade, o Ministério da Justiça fechou uma parceria com o Senac. Esse acordo prevê a instalação de um restaurante-escola, “com alto padrão de qualidade e cardápio variado”, conforme o ministério. “A previsão é que seja inaugurado na segunda semana de julho. Para abrigar o novo estabelecimento, a área do 2º subsolo do Anexo II foi reformada e a cozinha, reestruturada. Não será feita licitação porque optou-se por uma parceria com entidade pública sem fins lucrativos, seguindo os moldes dos contratos firmados entre o Senac e a Câmara dos Deputados, que já conta com uma lanchonete e um pequeno restaurante no seu Centro de Treinamento”, informou o ministério. (LP)

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Prós e contras
Fotos: Valério Ayres/CB/D.A Press 
 
Usuários dos estabelecimentos comentam os serviços. A qualidade e o preços são os itens mais citados e não há http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/as10-1.jpgunanimidade na avaliação das condições dos pratos no dia a dia.

Oliomar Mendes de Sousa,
49 anos, servidor público, morador de Samambaia Sul

“A comida é excelente. Na hora do almoço, no dia a dia, é muito difícil sair do trabalho, pegar o carro, enfrentar o trânsito e depois voltar. Depois do meio-dia, não tem mais vaga nos estacionamentos da Esplanada dos Ministérios”
 

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Ronya Campos,
32 anos, servidora pública, moradora do Gama

“Não gosto das refeições. A qualidade do self- service deixa a desejar, os donos deveriam investir mais. Já comi comida fria”
 

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Mariana Carolino, http://stat.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20090601/fotos/as10-3.jpg
23 anos, servidora pública, moradora do Guará

“A comida é ruim. O preço até poderia até ser um pouquinho mais caro para ter mais variedade e qualidade nas refeições”
 

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Erina Carvalho, http://server/clientes/producao/condsef.org.br/uploads/rota-almoco-barato-413.jpg
57 anos, autônoma, moradora do Recanto das Emas

“O almoço é barato e muito gostoso. Como bem por R$ 2. Onde vou encontrar um preço desses? Já comi em vários ministérios e acho que está tudo muito bom”

 

 

 

Publicado em 01/06/2009






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