Sintrajufe-RS

Durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o ministro da Economia Paulo Guedes voltou a falar à imprensa sobre uma possível reposição salarial para os servidores públicos. Guedes usou a guerra como desculpa para o congelamento – do qual ele mesmo já disse se orgulhar –, não deu garantias sobre a possibilidade de reposição e sequer cogitou um índice maior, que pudesse atender as reivindicações das categorias.

“Perdas acontecem: tem uma guerra e as pessoas perdem um pouco. Todo mundo perdeu, no mundo inteiro. O que você faz é [questionar]: daqui pra frente, é possível manter? A inflação acumulada desse ano foi 5% até agora. É possível repor o funcionalismo desse ano? Sim até 5% dá. Essa que é a conversa hoje lá”, disse o ministro. Depois, em outra declaração, disse que o aumento de 5% para o funcionalismo público federal é o único possível e que seria factível dentro do atual Orçamento. Sobre as grandes perdas acumuladas, foi categórico: “Você pode até dar alguma coisa, mas esquece o que ficou para trás”.

A tentativa de vincular o congelamento salarial à guerra da Ucrânia não engana ninguém: nesta semana, a guerra completou três meses (o primeiro ataque russo foi anunciado em 24 de fevereiro deste ano). Mas o congelamento é uma realidade de muito mais tempo, e nos três anos e meio de governo de Jair Bolsonaro (PL) nada foi oferecido a servidores e servidoras a não ser precarização do trabalho e desmonte dos serviços públicos.

Em relação à inflação do último período, Guedes diz que, até o momento, foram 5%. Mas ele escolhe deliberadamente apenas os primeiros meses de 2022 e ignora as perdas de 2019, 2020 e 2021, quando a política de reajuste zero foi aplicada pelo governo. No acumulado de 12 meses, o índice de inflação já chega a 12,3%; e a projeção do mercado para o ano completo de 2022 está em 7,89%, segundo a última pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central, mas parte dos analistas já projeta uma inflação mais perto de 9%.

A tática que Guedes e Bolsonaro vêm aplicando, de criar confusão para prejudicar os servidores, já foi afirmada pelo ministro abertamente em abril de 2020. Em reunião ministerial, explicou: “nessa confusão toda, todo mundo está achando que estamos distraídos, abraçaram a gente, enrolaram com a gente, nós já botamos a granada no bolso do inimigo: dois anos sem aumento de salário”. Os “inimigos” que ficaram dois anos sem aumento de salário (até aquele momento) são os servidores e as servidoras.