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Sidarta: Estamos em marcha ré, de volta ao orçamento de 20 anos atrás

No programa Roda Viva, o neurocientista e professor da UFRN, Sidarta Ribeiro, fez reflexões sobre o País e apontou preocupação com projeto do atual governo: "a ideia de vender e privatizar tudo é uma fantasia, ou infantil ou desonesta"


Sidarta: Estamos em marcha ré, de volta ao orçamento de 20 anos atrás
Sidarta Ribeiro (Imagem: Reprodução/Roda Viva-TV Cultura)

Condsef/Fenadsef

"Ou a gente acorda ou não verá país nenhum", essa foi uma das diversas reflexões feitas por Sidarta Ribeiro, neurocientista, professor titular e diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entrevistado do programa Roda Viva na segunda-feira, 6. Autor do livro "O oráculo da noite: A história e a ciência do sonho", Sidarta diz que ainda acredita no Brasil, mas que estamos vivendo um pesadelo. Para o neurocientista, é preciso definir qual a vocação do País e que investir no povo é um caminho seguro. "Deu certo em vários lugares do mundo e não tem razão para dar errado no Brasil", destacou. Para isso, ele defende o mesmo que a Condsef/Fenadsef, investimentos públicos, principalmente em educação e ciência e tecnologia, mas avalia que o Brasil tem andado para trás. 

Um sinal disso está na política do atual governo que promove um acelerado desmonte do setor público e defende a privatização de "tudo que for possível". O cientista rebate. "A ideia de vender e privatizar tudo é uma fantasia, ou infantil ou desonesta". Para ele o Brasil vinha dando certo e agora estamos andando para trás. Do ponto de vista da ciência e educação ele avalia que o retrocesso orçamentário é de pelo menos de duas decádas. "Estamos em marcha ré, de volta ao orçamento de 20 anos atrás". Ele menciona também a ordem de Paulo Guedes de vender tudo para pagar rentistas. Sidarta sinaliza que é preciso que as pessoas se conscientizem de que não haverá futuro se formos por esse caminho. 

Para dar um exemplo do desmonte ao qual os setores da educação e ciência e tecnologia estão submetidos, Sidarta comparou o grau de investimento no Brasil e nos Estados Unidos. O orçamento do laboratório inteiro do qual ele é diretor é menor do que o salário de um pós-doutorando nos EUA. O cientista apontou que no início o governo Bolsonaro chegou a falar que ia reservar 3% do PIB para ciência e tecnologia, mas para ele não é o que está acontecendo. Para Sidarta, não é o discurso da pátria grande e nacionalista e sim o do entreguismo que está em pauta. 

Fuga de cérebros

A desconstrução do Estado brasileiro seria, para ele, um dos aspectos ruins desse cenário. Perguntado sobre o risco de fuga de cérebros do País, Sidarta pontuou que é preciso acordar, pois podemos deixar de ser uma grande promessa para virar um grande inferno e isso não faz sentido. O cientista mencionou ainda a situação de minorias que vem sofrendo fortes ataques, muitas vezes estimulados pelo próprio governo.

Sobre os ataques às universidades, o neurocientista é enfático. "Se as pessoas acham que vamos evoluir sem universidades estão muito equivocadas", e acrescentou, "mais que uma discussão de esquerda e direita o País vive um processo de debate entre racionalidade e irracionalidade. Precisamos proteger nossas universidades públicas", concluiu.

Desigualdade e mundo do trabalho

O cientista ainda falou sobre situações sintomáticas do mundo do trabalho e a glorificação do ficar sem dormir como símbolo de produtividade. A falta de sono, alertou, é um problema sério e causa queda de produtividade gerando ainda síndromes e crises que têm atingido cada vez mais pessoas ao redor do mundo. Sidarta concluiu também que o problema do planeta é distributivo e não de abundância já que há comida suficiente para todo o mundo. A desigualdade é um mal que precisa ser debatido para que se encontrem soluções. 

A importância fundamental de aproximar cientistas da sociedade também foi apontada. Sobre esse distanciamento que tem gerado um movimento que põe em dúvida a própria ciência, como exemplo o movimento dos terraplanistas, Sidarta apontou que o desacomplamento começa na educação. "Sou a favor de algum relativismo, mas temos um ministro que sabe que a terra é redonda. Ele viu", falou mencionando o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que esteve em missão no espaço. Para ele esses são temas que distraem a população do que de fato importa. Orçamento sucateado e falta de projeto de Brasil preocupam o neurocientista. "Me interessa discutir o País".  

Confira a íntegra da entrevista de Sidarta ao Roda Viva:






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