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O Sindiserf-RS por três servidoras

Pioneirismo, ditadura, machismo e resistência: três servidoras contam como foi construir o Sindiserf-RS


O Sindiserf-RS por três servidoras
Reprodução / DR

Sindiserf-RS

Venina Pureza de Freitas (Incra)   

“Foi uma época muito apaixonante! Eu era politizada, militante, minha sedução pelo sindicato está ligada à isso, a consciência de classe”, conta Venina Pureza de Freitas, servidora do INCRA, atual secretária adjunta de Assuntos Jurídicos. Ela já participava da associação dos funcionários do INCRA, quando recebeu a proposta de debater a criação de sindicato.

“Começamos ir nos órgãos, inflamar os companheiros e assim a gente se achou. Era o início de uma grande organização sindical, na época foi um período muito favorável para a esquerda, para o movimento sindical, com o PT surgindo”, recorda.

Para Venina, o Sindicato já nasceu com uma visão ideológica de mudar toda a sociedade, de resistência. “A direita nunca dará espaço para os trabalhadores e tínhamos consciência disso”. Antes mesmo do Sindicato, a servidora chegou a ser presa dentro do INCRA, com mais dois colegas. “Estávamos na ditadura e mesmo grávida, me levaram presa. Por causa da nossa consciência de classe, nós fazíamos greve”.

Ela acredita que a luta dos servidores é muito individual, diferente dos trabalhadores da iniciativa privada. E para Venina, a atual conjuntura está afastando as entidades sindicais de suas bases. “Precisamos aproveitar esse momento e se reinventar. Pois o movimento sindical é de grande importância para a resistência e para mudar a realidade”.

Vivian Petit (PRF)

“A sede do Sindicato tinha uma mesa, uma cadeira e nada mais, ficava na Galeria Santa Catarina. Eu era uma das que ajudava a fazer o cadastro dos novos associados”, recorda a servidora aposentada da Polícia Rodoviária Federal, Vivian Petit, atual secretária adjunta de Aposentados e Pensionistas. Segundo ela, “foi uma batalha iniciar um Sindicato de civis dentro de um órgão militar”. Vivian enfrentou preconceitos por ser mulher dentro de órgão militar e por ser sindicalista. “Era combativa e isso incomodava”.

Uma das recordações que ela aponta como mais bonitas foi de uma das primeiras greves que o Sindiserf/RS fez, no final da década de 1980. “Houve uma assembleia no ginásio do Colégio Protásio Alves, na Avenida Ipiranga. Saímos em caminhada até o centro de Porto Alegre, parando em frente de diversos órgãos com muitas faixas. Um grande número de servidores civis do Exército e da Marinha estavam presente. Foi muito bonito”.

Atualmente, pensa que não há mais servidores de carreira. “Ficam pulando de galho em galho, pensando em salário. Não têm visão de futuro, de continuidade e também não conhecem a luta anterior a si. Não se preocupam se o colega de outro órgão está sofrendo ataque, perdendo direitos. Em paralelo a isso, o Sindicato também passou por toda essa mudança, trabalhista, tecnológica, de sucateamento do serviço público”.

Referente à atual situação política do país que está desmontando o serviço público, Vivian confessa que não consegue ser otimista. “Nos vejo na planície de um cânion e estão nos empurrando, se não calçarmos isso, cairemos no precipício”.

Rosemary Manozzo (Funasa/Ex-Sucam)

“Não tínhamos nada de representação, tudo era proibido por causa da ditadura”, lembra Rosemary Manozzo, servidora da FUNASA (ex-SUCAM) e nesta gestão, secretária da Saúde do Trabalhador (a). “Um dia, veio um colega servidor de Minas Gerais para uma reunião e ele falou que precisávamos nos organizar como associação de trabalhadores da SUCAM, para ter um documento com nossos direitos e reivindicações. E fizemos a Associação dos Servidores da SUCAM, havia na época, 500, 600 servidores no RS”, conta.

Foi neste período que a Constituição Federal de 1988 foi promulgada, permitindo criar sindicatos. “Um dia recebi um telefonema avisando que havia um senhor do DNER que estava conversando com os presidentes das associações de servidores para montar o Sindicato”. Rosemary recorda os primeiros anos do Sindiserf/RS “com todos os tipos de pessoas, nem todos tinham conhecimento de esquerda, direita”.

Das melhores lembranças, ela cita uma assembleia em Santa Rosa, onde filiou centenas de pessoas. E aponta o machismo como a recordação ruim, que acabou a afastando do movimento sindical, mas não da luta. “Neste tempo, me filei em partido político, militei muito e acompanhava as questões do Sindicato e da nossa categoria. Até que resolvi voltar, as direções haviam mudado e aquelas pessoas não estavam mais”.

Ela encerra alertando para o “momento mais grave que estamos vivendo”. Rosemary acredita que é preciso lutar muito até para manter o que a categoria já tem. “Nos outros governos, por piores que fossem, havia um canal de diálogo. É muito pior e perigoso hoje, o governo Bolsonaro quer nos tirar tudo, dos servidores e dos sindicatos”.






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