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Ministérios e universidades podem ser paralisados por cortes do Governo

Especialistas alertam que crise não será resolvida com aumento de receitas, já que Emenda Constitucional congelou gastos por 20 anos. Diretor da Condsef/Fenadsef ressalta a necessidade de revogação da EC 95 e de mobilização da classe nas ruas


Ministérios e universidades podem ser paralisados por cortes do Governo
Foto: Pixabay

Condsef/Fenadsef

Duas notícias colocaram a população em alerta nesta terça-feira, 30. O jornal O Estado de S. Paulo publicou bloqueio de quase R$ 30 bilhões no orçamento público e, consequentemente, possível paralisação de áreas como Ciência e Tecnologia, bolsas de estudos, pesquisa censitária e o programa Minha Casa Minha Vida. O fechamento da máquina pública pode se agravar a partir de agosto e julho será mês limite para diversas pastas.

Além dessa ameaça, o Ministério da Educação bloqueou 30% do orçamento de três universidades federais (UnB, UFBA e UFF) e reduziu recursos de outras unidades. Cerca de R$ 230 milhões foram contingenciados. Em nota, a Universidade de Brasília, a 8ª melhor universidade brasileira, segundo avaliação do Times Higher Education (THE), comunicou que não foi oficialmente informada de nenhum corte em seu orçamento, mas que a área técnica verificou o bloqueio no sistema. 

Desde que assumiu o Governo, a equipe econômica liderada por Paulo Guedes insiste que a solução é procurar maneiras de aumentar a arrecadação de receitas, especialmente por meio de cortes e privatizações. Entretanto, especialistas explicam que a estratégia não terá efeito para superação da crise vivida no Brasil atualmente. "Por mais que cresçam as receitas, as despesas estão limitadas", aponta Leandro Couto, analista de planejamento e orçamento. O especialista se refere à Emenda Constitucional 95, aprovada em 2016, durante a gestão de Michel Temer, que congela os investimentos públicos por 20 anos. A norma está no centro da política de arrocho posta em prática por Jair Bolsonaro. 

Crise econômica

O assessor técnico da Câmara dos Deputados Flávio Tonelli avalia que a crise econômica vivida atualmente no País pode ser resumida em dois eixos. O primeiro é a ausência de medida efetiva que pudesse aumentar o consumo dos brasileiros. Segundo Tonelli, durante as crises de 2008 e 2009, o Brasil reagiu com estratégias não de arrocho, mas de intensificação de investimentos públicos, que incluíam aumento do salário mínimo e expansão de indústrias e comércio, o que garantiu o êxito do País à época. 

Nesta conjuntura, contudo, Tonelli se diz preocupado ao ver que a equipe de Bolsonaro ignora uma crise que se arrasta desde 2015 e que se consolida como a mais longa da história do Brasil. "O governo, em um tratamento altamente liberal, está ignorando a crise e acha que ela vai se resolver por si mesma, que basta cortar gastos públicos que a situação se resolve, mas não há exemplo nenhum no mundo que foi assim. Economia se recupera quando há demanda. Ninguém vai produzir mais se não tem onde botar a produção", explica.

Na análise do assessor, o segundo ponto que aprofunda cada vez mais a crise econômica do País e que não permite a superação da situação é a Emenda Constitucional 95. "Fizeram uma péssima emenda limitando o gasto público. Hoje, mesmo se o País arrecadasse o dobro, não se poderia gastar mais. Dessa forma, é falso que a penúria pela qual passam os Ministérios seja por conta do nível de arrecadação. Tanto faz arrecadar. Não se pode gastar."

Para o analista de planejamento e orçamento Leandro Couto, o Brasil está em um círculo vicioso que, sem mexer na EC 95, será difícil sair da crise. O Secretário-geral da Condsef/Fenadsef, Sérgio Ronaldo da Silva, concorda. "O Teto dos Gastos é eixo central do buraco em que o País se encontra. Estamos com investimentos públicos congelados por 20 anos desde dezembro de 2016. Já se passaram pouco mais de dois anos e a situação caminha para uma convulsão social. Nossa categoria deve estar nas ruas pela preservação do Serviço Público e em defesa da Previdência Social", agita. O dirigente convoca os trabalhadores para os atos de 1º de Maio, 15 de Maio e 14 de Junho (confira aqui o calendário para sua cidade).

Privatizações

Tonelli avalia as ações dos Governos Temer e Bolsonaro como tentativas de criar demandas para privatizações, com a justificativa de aumentar arrecadação e superar o déficit, entretanto, argumento é falho. "Não tem jeito, com a Emenda, não há mecanismos para sair da crise. Tudo que se é preciso fazer, não se pode. Não se pode aumentar salário mínimo, crédito subsidiado, investimento. O modelo é feito para não se gastar com nada e gerar demandas para a privatização". 

Para o assessor da Câmara dos Deputados, também não há segurança nenhuma para o mercado. "Esse governo é incapaz de gerar garantia para o setor privado porque não tem plano para o País". Leandro Couto concorda: "A estratégia do Governo parece estar assentada apenas na construção de confiança ao setor privado, pela aprovação da reforma da Previdência, como se esse fator fosse suficiente para retomar o crescimento". Para Sérgio Ronaldo da Silva, a crise só será superada com a revogação da EC 95 e com investimentos no setor público, que terão consequência direta na melhora da economia para as famílias brasileiras.






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