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'Interesse público é o único não considerado nas reformas de Bolsonaro'

Presidente do Sintsep-GO, Ademar Rodrigues, está há duas semanas fazendo o Giro pelo Interior, junto aos integrantes da base da entidade nos diversos municípios do Estado. Já foram visitados 14 municípios, que compreendem a primeira e a segunda rota


'Interesse público é o único não considerado nas reformas de Bolsonaro'
Foto: Sintsep-GO

Sintsep-GO

Presidente do Sintsep-GO, Ademar Rodrigues, está há duas semanas fazendo o Giro pelo Interior, junto aos integrantes da base da entidade nos diversos municípios do Estado. Já foram visitados 14 municípios, que compreendem a primeira e a segunda rota. Faltando ainda três rotas e 23 municípios, Ademar avalia que a participação dos filiados tem sido expressiva, “melhor que o esperado”. Sobre os projetos do governo para o país, “o cenário é muito preocupante, ruim demais para o trabalhador”, descreve. Confira a íntegra da entrevista com o presidente:

1) Como tem sido a participação da base do Sintsep-GO no giro pelo interior até o momento?
O número de pessoas participantes por local de trabalho está acima do que nós esperávamos. Estatisticamente, inclusive, acompanha o perfil atual do sindicato: 46% de aposentados, 22% de pensionistas e 30% de ativos, com alta probabilidade de se aposentarem em curto espaço de tempo – alguns até janeiro do ano que vem.

2) Tem sido boa a receptividade?
A receptividade está excelente. Faço uma avaliação de que isso ocorreu em função de duas coisas: as muitas lutas em relação à reforma da Previdência (e às demais reformas que temos divulgado) e às ações jurídicas que o sindicato está impetrando a partir de agora (Capesaude; pecúlio Capesesp; revisional do Pis-pasep; 3,17%; 28%; etc.). A dos 3,17%, que inclusive já deveria ter sido paga e o juiz está postergando, abriu agora para que a Funasa possa rever as parcelas que foram pagas adiantadas para os servidores.

“Justiça hoje é governo, trabalha alinhada com o governo.”

3) Postura ruim do Judiciário…
É, a gente não entende essa postura da Justiça sistematicamente contra o trabalhador. Aliás, quero retificar: a gente entende. Justiça hoje é governo, trabalha alinhada com o governo. Os três poderes que deveriam ser independentes hoje têm um único objetivo no setor público: privatizar o que for possível e acabar com a prestação de serviço para a população. Para eles, só existem as carreiras típicas de Estado. O resto é resto – e daqui uns dias, se nós não reagirmos de forma coesa, é um resto que não existirá.

4) Inclusive fala-se numa redução drástica de tabelas…
Sim, ele [o governo] mesmo tem dito que vão reduzir de 170 carreiras – eu chamo de tabelas – para 30, fazendo com que o servidor esteja sujeito a mobilidade entre órgãos que não vai refletir na melhoria da carreira. Se você pegar o Ministério do Trabalho, os trabalhadores foram para o Ministério da Economia mas a carreira deles não mudou nada – e agora eles estão no limbo, pois o órgão de origem deles não existe mais. Isso, para o servidor, não tem vantagem nenhuma. Com a reforma administrativa poderá ser instituído então um sistema de avaliação muito cruel com o servidor, que poderá levá-lo inclusive à demissão por insuficiência de desempenho.

5) Então, se for aprovada, a Reforma Administrativa piora muito o cenário?
Aí piora. Piora muito. A quantidade de ações governamentais que irão para as mãos da iniciativa privada e que serão pulverizadas nos Estados e Municípios vai aumentar muito. Apesar de haver áreas nas quais o Estado tem obrigação de investir, a tentativa do governo é cada vez mais se livrar desses investimentos. Na Educação estão criando o Future-se, que significa, entre outras coisas, precarização na contratação de professores. O próprio texto da reforma aponta redução de salários. Se você juntar Emenda Constitucional 95 (EC 95/16), reforma trabalhista e flexibilização das leis existentes, terceirizações, reforma da previdência, reforma administrativa, reforma tributária e reforma sindical… nenhuma dessas emendas, leis ou medidas provisórias é positiva para a classe trabalhadora, seja do setor público ou do privado; nenhuma! Em todas elas, a ideia central é diminuir encargos para os patrões, aumentando a margem de lucros, e aumentar os encargos para os trabalhadores.

6) Ou seja, o trabalhador agora está entendendo quais os reais objetivos de Bolsonaro.
Evidentemente. No nosso caso, como servidores públicos, estamos há dois anos sob o jugo da Emenda Constitucional 95 sem qualquer reajuste. E ainda faltam 18 anos para ela perder a validade. Qual trabalhador sobrevive a 20 anos sem reajuste? Não é aumento, é reajuste! Com as privatizações das nossas empresas o governo disse ainda que vai arrecadar R$ 2 trilhões. A pergunta é: para aplicar onde, já que a EC 95 trava o orçamento público? Sabe para onde o dinheiro vai: para o pagamento da dívida pública, para o lucro dos banqueiros. O nosso dinheiro suado, fruto do patrimônio público brasileiro, vai entrar liso no bolso dos gringos. Isso é um crime de lesa-pátria.

“…para ganhar as eleições, ele [Bolsonaro] terceirizou o Brasil para o Paulo Guedes e para o mercado internacional”.

7) Não vamos longe não, olha a situação da Celg e agora da Enel…
Depois que a Enel assumiu o serviço só piorou, infelizmente. Será que ao privatizar os Correios, por exemplo, a empresa privada que irá gerir vai abrir postos naquelas cidades bem pequenas, que não dão lucro? Haverá civismo por parte do empresário? Haverá apenas jogos de interesse – e o nosso interesse, enquanto população, o interesse público, é o único que não está sendo considerado.

8) Na próxima semana, integrantes da direção – inclusive você – participam do 13º Congresso Nacional da CUT. Qual a expectativa?
Na minha opinião, a CUT tem que ser o sustentáculo de vários movimentos que, de forma unida, devem contribuir para a derrubada da EC 95/16 – porque sem fazer isso nada vai mudar – além das outras reformas que têm contribuído para aumentar o fosso da desigualdade social no país. A concentração de renda no Brasil tem aumentado significativamente e, dessas reformas, nenhuma delas ataca esse problema; pelo contrário, acentua. Tanto o Concut, quanto o Cecut e o Congresso da Fenadsef devem apontar para a continuidade da luta – que hoje não é mais por direitos, apenas, é uma questão de sobrevivência. O grupo que hoje está no poder quer passar o Brasil para os americanos; neoliberalismo conservador – no que há de pior – de porteira fechada. Se isso acontecer, não sobra pedra sobre pedra para nós trabalhadores. Aliás, não sobra nem a gente aqui, como trabalhador, porque daqui uns dias as pessoas estarão trabalhando por migalhas, sem direitos, sem aposentadoria (já que os critérios serão muito difíceis de ser atingidos), com salários defasados e sem correção – um cenário de quase escravidão.

9) Na sua visão, quem é hoje o principal inimigo do trabalhador brasileiro?
Antes eu achava que era o Bolsonaro. Hoje não. Eu percebo que, para ganhar as eleições, ele terceirizou o Brasil para o Paulo Guedes e para o mercado internacional. Assim, de porteira fechada. Ela fala as imbecilidades dele, é um inapto; mas o cara que faz a maldade mesmo, que assalta o patrimônio público brasileiro é o Paulo Guedes. Ele é o pensador, a raposa cuidando do galinheiro. Sem gente do perfil do Paulo Guedes ao seu lado, Bolsonaro e ninguém é a mesma coisa.






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