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Fiocruz comemora 120 anos de dedicação a ciência e de luta pela saúde

Criada em 1900, a Fundação Oswaldo Cruz foi fundamental no combate a doenças como a peste bubônica, a febre amarela e a varíola. Atualmente, a instituição é a principal referência no combate à Covid-19 das Américas, segundo a OMS


Fiocruz comemora 120 anos de dedicação a ciência e de luta pela saúde
Reprodução/G1

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A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está completando nesta segunda-feira (24) 120 anos de sua fundação. Ao longo dos anos, a instituição criada pelo médico e cientista Oswaldo Cruz, já ajudou a vencer epidemias como a peste bubônica, a febre amarela e a varíola.

Atualmente, é a principal referência no combate a Covid-19 entre os países das Américas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A importância da instituição em âmbito internacional é tão grande que a Fiocruz participa de uma pesquisa ao lado de outros países em busca da vacina contra a Covid-19.

Além disso, independentemente de onde venha a fórmula para a cura, a fábrica de vacinas de Bio Manguinhos já tem experiência em adaptar tecnologias e a capacidade para produzir, em um ano, até 110 milhões de doses de vacinas. Essa quantidade seria suficiente para imunizar metade da população brasileira.

Para Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, o trabalho da instituição no combate a Covid-19 deixaria Oswaldo Cruz emocionado. "Creio que ele se emocionaria, como todos nós nos emocionamos. Cada gesto deste, depende de conhecimento cientifico, mas depende muito do compromisso de pesquisadores, de profissionais da saúde, de gestores, que todos juntos veem que esta é a nossa missão, salvar vidas", comentou Nísia Trindade.

Sobre a importância da Fiocruz ao longo de seus 120 anos de atuação, Nísia concluiu que o mais importante do trabalho desenvolvido na fundação é apontar caminhos para os governantes com base em dados científicos. "(A Fiocruz) É um monumento à ciência, como base para políticas públicas de defesa da vida. Esse é o nosso grande mote, nossa grande motivação neste momento", disse a presidente.

Conquistas do passado

A construção da sede da Fiocruz foi um pedido de Oswaldo Cruz, que idealizou um monumento à altura dos desafios gigantes que a ciência viria a enfrentar no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Na época de sua criação, o Rio era considerado "um túmulo dos estrangeiros", como conta o historiador Carlos Fidelis.

"Muitos navios anunciavam que iam para a América do Sul, mas não paravam no Brasil, para poder vender a passagem. Aqui havia a coisa de ser um lugar insalubre, um lugar com muitas pestes", explica Fidelis. A peste bubônica foi o primeiro desafio sanitário do século passado. A doença chegou ao Rio de Janeiro no começo de 1900 e matou mais de 1,3 mil pessoas na cidade. Naquela época também teve quarentena e crise econômica.

Segundo o historiador, a doença atrapalhava o desenvolvimento do país, já que o Rio era a capital nacional. "Isso atrapalhava muito o negócio do porto, o negócio do café e a vinda de braços para a agricultura cafeeira", disse Fidelis.

A construção

Há 120 anos, todas as esperanças para superar o momento difícil estavam em uma fazenda distante do centro da cidade. Nesse local, Oswaldo Cruz começou a fabricar o soro contra a peste bubônica. Assim começou a história da Fiocruz.

Logo nos primeiros anos, o centro de pesquisa teve que combater ao mesmo tempo epidemias provocadas por três doenças diferentes: peste bubônica, febre amarela e varíola. "Ele queria eliminar o vetor, por isso ele comprava os ratos da cidade, mas isso saiu meio que pela culatra. As pessoas começaram a criar rato, já que ele comprava", contou Fidelis. Apesar das dificuldades, Oswaldo Cruz viu os números de casos de peste bubônica despencarem e ele conseguiu vencer a doença.

Febre amarela

No caso da febre amarela, o combate foi mais difícil. A população não se convencia que o vírus, invisível, estava nos mosquitos. A doença chegou a contaminar 60% dos moradores do Rio, matando maus de 100 pessoas por dia.

Com o poder de diretor de saúde, o equivalente atual ao cargo de ministro da saúde, Cruz mandou cercar doentes com grades de metal e lacrar as casas dos infectados. Ele colocou a polícia nas ruas para matar mosquitos. "Você tinha brigadas sanitárias que percorriam quarteirões. Era uma coisa como se fosse uma operação de guerra", explicou o historiador.

Revolta da vacina

No mesmo ano da febre amarela, em 1904, a varíola matou 3,5 mil pessoas na cidade. Para combater mais esse problema de saúde, Oswaldo Cruz determina a vacinação obrigatória. A medida foi vista como autoritária por muitas pessoas. "Você tem reações, tanto do povo como da intelectualidade, alguns como Ruy Barbosa, diziam que aquilo era inocular veneno. As mocinhas tinham que mostrar os braços para o vacinador da saúde pública", conta Fidelis.

O país vivia na época uma tempestade política. O Rio de Janeiro, como capital da república, viu explodir uma grande revolta contra a vacina. O protesto foi violento, principalmente na região da Saúde, um bairro do centro. Vários bondes foram destruídos e o governo decretou estado de sítio. A campanha de vacinação foi interrompida. "Foi uma pancadaria. Nunca vamos saber exatamente, mas se fala em 30 mortos, cento e poucos feridos e 900 presos", contou o historiador sobre o saldo da revolta popular.

Quatro anos depois, em 1908, a eficácia da vacina produzida na Fiocruz foi comprovada. Com a volta da varíola, "a população exige a vacina", lembrou Carlos Fidelis.

Centro Hospitalar Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz — Foto: Leonardo Oliveira/Fiocruz/Divulgação

Fiocruz contra a Covid

Na luta contra a pandemia do novo coronavírus, pesquisadores da Fiocruz conseguiram adaptar um modelo alemão de testes contra a Covid-19 e começaram a produção no país. Essa equipe recebeu a maior encomenda de kits de testagem para o sistema público de saúde. Ao todo, serão entregues 11 milhões de kits até setembro.

Erguido há 108 anos, o Hospital Evandro Chagas, que funciona na Fiocruz, também ganhou uma nova unidade dedicada exclusivamente para casos da nova doença.

Assim como aconteceu no início do século passado, a experiência nos tratamentos dos pacientes do hospital faz parte de estudos nos laboratórios sobre a relação do novo coronavírus com obesidade, diabetes e fatores genéticos.

Como referência da OMS nas Américas, a Fiocruz recebe amostras de todo o mundo para investigar as mutações do vírus.






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