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A Associação dos Servidores da Fundação Casa de Rui Barbosa divulgou ontem, 13, carta destinada à presidente do órgão, Letícia Dorneles da Silva, criticando controle censório da instituição e a transformação das redes sociais da Casa em instrumentos de promoção pessoal, o que contraria preceitos constitucionais. O texto também pede imediata reversão das exonerações e afastamentos ocorridos a partir de 8 de janeiro, que resultou, segundo o documento, em "degola simultânea" de toda a cúpula do Centro de Pesquisa, seguida pelo desligamento da chefe da Divisão de Planejamento e Orçamento. Os pesquisadores souberam das dispensas pelo Diário Oficial.

Em entrevista à jornalista Lu Lacerda, do Portal IG, Dorneles justificou as exonerações declarando que os servidores foram investigados anteriormente. "Em presença e criatividade, são mal avaliados", afirmou a presidente. A declaração, para os trabalhadores da Casa, é injusta e preocupante, pois indica haver investigações secretas sobre os funcionários. 

"Compreendemos a prerrogativa de cargos de direção, chefia e assessoramento serem de livre nomeação e exoneração, entretanto, a absoluta falta de diálogo e as justificativas contraditórias e preocupantes deixam o corpo funcional indignado e inseguro sobre uma administração que mal começou e já provoca tanta cizânia", escreve a Associação de Servidores.

Portas fechadas

Na segunda-feira, 13, ao chegarem ao trabalho, servidores da Casa foram surpreendidos com as portas fechadas à visitação pública. "Entre outros danos, deixou de fora refugiados, que aguardavam a reabertura do Centro de Proteção a Refugiados e Imigrantes, e a sociedade em geral, que usa nossos serviços", consta na carta. Houve manifestação popular contra a atitude. Segundo o presidente da Associação, Walter Honorato, o local foi reaberto na manhã desta terça-feira, 14.

Promoção pessoal

Os trabalhadores da Casa também afirmam estarem preocupados com o uso inadequado das redes institucionais, com apagamento de postagens e comentários, o que representa cerceamento à liberdade de expressão e compromete a transparência pública. "É perceptível que em diversos momentos as postagens servem para sua autopromoção, com uma abundância de selfies, o que caracteriza uso de recurso público para benefício pessoal", escreve a Associação.

Apadrinhada pelo pastor e deputado Marco Feliciado (Podemos-SP), Dorneles é autora de novelas do SBT e conquistou o clã Bolsonaro após publicação de um texto de apoio ao presidente, que foi compartilhado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). 

A antropóloga e professora da Universidade de São Paulo (USP) Lilia Schwarcz, em sua coluna no jornal Nexo, criticou a escolha de Letícia para comandar a Fundação. "[Letícia Dorneles] não tem o perfil para gerir uma casa que é responsável pelo acervo e a pesquisa da obra de Rui Barbosa, que também cuida de preservação, de investigações e da divulgação de vasta documentação no campo da literatura e da filologia", escreveu. Para a pesquisadora, a nomeação de Dorneles representa descaso, menosprezo e falta de atenção para com os setores da cultura nacional. "Na pior, trata-se de provocar o desmanche mesmo. Por inanição", declarou Schwarcz.

Função social

A Fundação Casa de Rui Barbosa tem sua origem no museu-biblioteca instituído em 1928 e hoje se encontra vinculado ao Ministério do Turismo, após determinação de Jair Bolsonaro de transferência da Cultura para a pasta. Hoje sua finalidade é o desenvolvimento da cultura, da pesquisa e do ensino. Sua estrutura conta com espaço para produção de trabalho intelectual, consulta de livros e documentos importantes à preservação da memória nacional.