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Com mais de mil mortes em um dia, Brasil tem um óbito a cada 73 segundos

No tempo em que você lê este texto até o final, ao menos uma morte oficial por covid-19 será registrada no Brasil


Com mais de mil mortes em um dia, Brasil tem um óbito a cada 73 segundos
Imagem/Arte UOL

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No tempo em que você lê este texto até o final, ao menos uma morte oficial por covid-19 será registrada no Brasil. A última atualização do Ministério da Saúde, divulgada hoje (19), mostra que, nas últimas 24 horas, foram contabilizados 1.179 óbitos pela doença causada pelo coronavírus, com média de uma a cada 73 segundos. Ao todo, o país registra 17.971 mortes pela covid-19. 

O país atingiu 271.628 diagnósticos, sendo 17.408 casos confirmados entre ontem e hoje. Ao menos 146.863 seguem em acompanhamento e, segundo a pasta, cerca de 106.794 se recuperaram da doença.

Trata-se de um novo recorde de mortes registradas em um dia, passando os 881 óbitos contabilizados na terça-feira passada (12). Os picos têm sido neste dia da semana porque, entre sábado e domingo, os dados não são registrados no sistema na mesma velocidade que nos dias úteis. 

Hoje foi o primeiro dia nesta pandemia em que o Brasil contabilizou mais de mil mortes pela covid-19. Trata-se do quinto país do mundo a chegar neste patamar, após Estados Unidos, França, Reino Unido e China.

O novo patamar atingido hoje coloca a covid-19 como a principal causa de mortes hoje no Brasil, acima de qualquer doença ou causas externas. A título de comparação, a principal causa de óbitos no país são as doenças cerebrovasculares, que, segundo os dados mais recentes do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), de 2018, matavam em média 273 pessoas por dia. 

O mesmo vale para os casos de infarto, pneumonia, diabetes, hipertensão e qualquer tipo ou agrupamento de câncer, além de mortes por acidentes ou agressões (que inclui assassinatos e suicídios).

Desde o início da pandemia, a covid-19 matou personalidades tão distantes quanto Aldir Blanc, Daisy Lúdici, Daniel Azulay e a técnica de enfermagem carioca Daniele Costa, o que prova que a doença não escolhe classe nem local. Oito dias antes de morrer, Danielle fez um apelo em suas redes sociais: "É agoniante você ver que as pessoas estão ali, curtindo o momento. Mas não sabem se amanhã vão estar contaminadas ou se vai ter leito para elas."apelo em suas redes sociais.

Sem ministro 

Desde sexta-feira, o Brasil está sem um ministro da Saúde para conduzir o combate à pandemia. Na última sexta-feira, o oncologista Nelson Teich deixou o governo federal menos de um mês após ter assumido para substituir Luiz Henrique Mandetta, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em seu lugar, atua interinamente o general Eduardo Pazuello. 

A pressão feita pelo presidente pelo uso de cloroquina no tratamento de pacientes contaminados e suas críticas ao isolamento social, desdizendo em público orientações da pasta, pesaram na saída de ambos os ministros em tão curto período.

Em sua breve gestão, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich já havia admitido no final de abril a possibilidade de o Brasil contabilizar mil óbitos por dia no decorrer da emergência de saúde. 

"Se tivermos um crescimento significativo na pandemia, é possível acontecer", adiantou na ocasião, ponderando que, à época, tal cenário não era uma certeza. "Não quer dizer que vai acontecer. Temos que acompanhar a cada dia para tomar as decisões", afirmou.

Por trás dos números, tragédia é ainda maior 

Os 1.179 óbitos registrados nas últimas 24 horas não significam que todas estas pessoas morreram de ontem para hoje, mas sim que as mortes foram oficializadas como relacionadas à covid-19. 

Ainda que o Ministério da Saúde divulgue o total de mortes todos os dias, o número está sempre desatualizado porque os resultados dos exames demoram a sair. Há casos em que uma morte causada pela doença demora até 50 dias para entrar nas estatísticas do governo, conforme apurado pelo UOL. 

Também há subnotificação. Segundo os dados oficiais, o Brasil realizou 386,5 mil testes não específicos de covid-19 (que identificam vírus respiratórios no geral). Com isso, a taxa de testagem é de apenas 1,82 por 1 mil habitantes, enquanto as taxas de Itália (50,3) e Estados Unidos (37,4) são mais de vinte vezes maiores.

Quem testa menos naturalmente faz menos diagnósticos de covid-19, explica o infectologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo). 

"A falta de testes é um problema. Muitos óbitos ficam como suspeitos: tiveram uma Síndrome Respiratória Aguda Grave e suspeita de covid-19, mas nunca confirmada. Temos certeza de que existe a subnotificação tanto de casos quanto de mortes, mas o grau disso nós ainda vamos demorar a saber", diz Waldman.

Um levantamento feito pela USP no início do mês aponta o país como novo epicentro mundial do coronavírus. O estudo faz cálculos de casos subnotificados e apresenta uma projeção muito superior aos números apresentados pelo ministério, com o Brasil ultrapassando mais de um milhão de diagnósticos — os números foram calculados com base na incidência de infectados na Coreia do Sul, um dos países com maior testagem na população.

País é o 3º em número de casos 

Enquanto a maioria dos países mais afetados pela doença já está do outro lado do pico de contaminações, o Brasil ainda vê a covid-19 em fase de aceleração, e ninguém sabe com certeza quanto esta etapa vai durar. 

"Depende muito do confinamento das pessoas. Se o isolamento social for baixo, há um aumento rápido no número de mortos. Se o isolamento for rígido, acontece menos mortes e o pico é diluído ao longo do tempo. Enquanto estiver como hoje, meia boca, vai continuar morrendo muita gente", alerta o infectologista Marcos Boulos, da Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo (Sucen-SP).

O país é o terceiro com maior número de infectados pela covid-19 no mundo. Segundo a Universidade Johns Hopkins, que apresentam defasagem em relação aos dados do governo brasileiro recém-divulgados, são estes os países mais afetados pela pandemia atualmente:

  • Estados Unidos: 1.524.107 casos diagnosticados 
  • Rússia: 299.941 casos diagnosticados 
  • Brasil: 265.896 casos diagnosticados 
  • Reino Unido: 250.138 casos diagnosticados 
  • Espanha: 232.037 casos diagnosticados 
  • Itália: 226.699 casos diagnosticados 
  • França: 180.933 casos diagnosticados 
  • Alemanha: 177.778 casos diagnosticados 
  • Turquia: 151.615 casos diagnosticados 
  • Irã: 124.603 casos diagnosticados

A pandemia nos estados Estado mais afetado pela covid-19 no Brasil, São Paulo foi o que mais registrou casos (2.929) e mortes (324) nas últimas 24 horas. O recorde de óbitos fez o total de vítimas fatais chegar a 5.147. Na lista de maior número de diagnósticos nas últimas 24 horas, estão ainda Bahia (2,4 mil novos casos) e Ceará (1.749). Com 227 óbitos confirmados de ontem para hoje, o Rio de Janeiro chegou ao número mais alto desde o início da pandemia no estado.

O Pará ainda é o estado em que a covid-19 avança com maior velocidade. No período de uma semana, o estado viu o número de casos oficiais crescer 89% e o de mortes, 75%. Trata-se do maior crescimento proporcional entre os vinte estados do Brasil mais afetados pela pandemia — Tocantins e Roraima têm aceleração maior por terem poucos casos e óbitos. 

* Colaborou Juliana Arreguy






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