Condsef/Fenadsef
Uma das cenas mais fortes do golpe marcado por graves ataques às instituições bolivianas e que provocou a renúncia do presidente Evo Morales, nesse domingo, 10, foi a violência sofrida pela prefeita Patricia Arce. Rendida e atacada por uma multidão, a prefeita da cidade de Vinto, na Bolívia, tornou-se símbolo da violência com que se deu mais um golpe de Estado na América Latina. O ataque às instituições se personifica no ataque à prefeita que por pelo menos quatro horas foi submetida a práticas de tortura que remetem a regimes totalitários.
Enquanto isso, no Brasil, segue o plano de austeridade e eliminação do Estado brasileiro com ataques frequentes ao pacto federativo constitucional. Paulo Guedes, ministro da Economia, anunciou intenção de eliminar mais de 1.200 municípios. O caldo da crise na América Latina está em ebulição. Golpe na Bolívia, crise no Chile e outros países, essa eferverscência dá sinais de que o ataque a direitos, injustiça social em espiral crescente e interferências à ordem democrática precisam ser combatidos com unidade e poder popular.
É com grande preocupação que a Condsef/Fenadsef acompanha a situação na Bolívia, assim como no Chile que explodiu em revolta contra políticas de austeridade praticadas há décadas no país, além do Equador, Paraguai e outros países da América Latina marcados por golpes de Estado e ataques à direitos da classe trabalhadora. Na próxima semana, dia 18, a entidade estará em São Paulo, onde participa de uma reunião convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e que contará com representantes do setor público de diversos de nossos países vizinhos.
O Brasil deve receber como alerta todos os ataques às instituições nos países da América Latina. Nós vivenciamos um golpe em 2016 com o afastamento da presidenta legitimamente eleita Dilma Rousseff sem que se comprovasse os crimes de responsabilidade de que lhe acusavam. De lá pra cá, uma política neoliberal de austeridade tem sido conduzida de modo acelerado, usurpando direitos trabalhistas e aprofundando uma crise que já jogou milhões de brasileiros de volta à linha da miséria.
"Nos somamos a todos que expressam repúdio e transmitem solidariedade ao povo boliviano que está vivendo um ataque severo ao estado democrático de direito", comentou o secretário-geral da Confederação, Sérgio Ronaldo da Silva. No Brasil, há poucas semanas, o filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, declarou sua simpatia a decretação de um novo AI-5, instrumento que marcou o auge dos anos de ditadura militar que enfrentamos. A Condsef/Fenadsef, na ocasião, emitiu sua nota de repúdio.
Hoje, patinamos entre declarações polêmicas de figuras próximas ao presidente e ataques a instituições como é o caso do próprio Supremo Tribunal Federal (STF). Não é de hoje que o Supremo vem sofrendo pressões externas. A intenção parece ser a de garantir que a Suprema Corte do País não atue como guardiã da Constituição, como é o seu dever, mas tome decisões que legitimem o que defende uma pequena parcela da sociedade. Esses ataques às nossas instutições são ora instigados, ora criticados pela mídia que pauta a sociedade brasileira. A cobertura e o olhar muitas vezes distante e deturpado do que ocorre na América Latina são também reflexo do jogo político que quer subjugar a classe trabalhadora e entregar riquezas naturais de todos esses países que estão com a democracia sob ataque.
Para trazer o protagonismo da América Latina e fortalecer a democracia, garantindo o pleno funcionamento das instituições, é preciso que o povo tome frente desse processo. Para a Condsef/Fenadsef não se pode assistir de forma passiva a todos esses ataques que estão sendo aplicados para submeter a população mais pobre e vulnerável aos interesses de uma elite que dita regras no território latinoamericano há séculos.
"A mobilização e a unidade em torno de nossos direitos essenciais são nossa melhor chance frente ao avanço de forças totalitárias que tem se sentido ameaçadas nos últimos anos com a ascensão da classe trabalhadora", pontuou Sérgio. A organização dos trabalhadores é fundamental para fazer frente a todos esses ataques ao poder democrático não só na Bolívia como em toda América Latina. "Devemos estar atentos e prontos a defender os direitos que conquistamos com a força de nossa luta. Não vamos recuar. Viva a democracia. Viva o poder popular", reforçou.