A menos de mil dias para o início da Copa de 2014 a sensação da maioria é de que dificilmente tudo estará pronto e a contento para que o Brasil sedie a festa do futebol. Esta semana, e com alguns meses de atraso, o governo enviou ao Congresso Nacional o projeto da Lei Geral da Copa. A previsão é de que ele seja aprovado só no final do ano. Até lá, muito ainda precisa ser debatido. A Condsef defende que este debate garanta a ampla participação da sociedade, interessada maior em que as verbas públicas destinadas à consolidação desta Copa não sirvam de trampolim para o fortalecimento da corrupção. Para a entidade, a população não pode ser penalizada em nome da realização desta atividade esportiva. Para que o legado da Copa de 2014 beneficie a população brasileira, os investimentos feitos para isso não podem servir apenas para enriquecer empresários. É preciso que a população cobre e fique vigilante aos processos e exija melhorias que favoreçam a grande maioria em longo prazo.
Para além de determinações e exigências da Fifa, a Lei Geral da Copa precisa assegurar a transparência em licitações e na divulgação dos investimentos públicos que estão sendo feitos para garantir a infraestrutura necessária para que o Brasil não faça feio como sede do maior evento esportivo mundial. Em poucos meses, os investimentos em projetos para a Copa já aumentaram em quase 28% do que era previsto inicialmente para custear todas as obras que envolvem o evento. Um dos principais responsáveis pelo aumento do investimento público está na aprovação da construção do estádio do Itaquerão, em São Paulo. O BNDES deve custear quase R$ 1 bilhão para a realização deste projeto. Outro exemplo que ampliou em mais de 88% a expectativa de investimentos é o estádio do Beira Rio em Porto Alegre.
Privatizações na mira do TCU Quem também já sente os impactos de políticas que tentam evitar um fiasco na Copa de 2014 são os aeroportos. Em Decreto publicado no final de julho, o governo já incluiu três no Programa Nacional de Desestatização (PND): Guarulhos, em São Paulo (SP), Viracopos, em Campinas (SP) e Presidente Juscelino Kubitschek, em Brasília. Para piorar, uma medida provisória (MP 489) que concede à Infraero a possibilidade de contratar obras sem necessidade de licitação é contestada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Apesar de o governo negar que a Infraero vá realizar obras sem licitação, fato é que a proposta para flexibilizar regras para a execução de obras para a Copa 2014 e Olimpíadas 2016 abre perigosas brechas para que a estrutura para sediar a Copa fique pronta a qualquer custo. O modelo privatista apoiado pelo governo traz conseqüências desastrosas aos usuários que terão que arcar com tarifas mais caras.
A falta de uma política de Estado forte vai cobrar sua conta justamente daqueles que já pagam caro por ela: a população brasileira. A tentativa de apagar incêndios nos setores essenciais para promover uma copa do mundo deve expor as fragilidades de um país que tem se mostrado mais preocupado com aparências que com o bem-estar de seu povo. No atual modelo de investimentos adotado no Brasil, ainda que continue pagando muito e mais caro, a população nunca terá acesso a serviços de qualidade.
Fato é que até aqui o mundial não tem se mostrado um bom negócio para a maioria dos brasileiros. Aliados a atuações pífias da seleção canarinho, os esforços promovidos para fazer desta a melhor Copa dos últimos tempos esbarra em muitas traves e provoca a sensação de que tantas bolas fora vão deixar marcas profundas. Para que o Brasil pós Copa não deixe cicatrizes e heranças perversas para a população, é preciso vigília de todos para que se assegure que além de um bonito espetáculo para o mundo, o país faça bonito para aqueles que de fato estão arcando com a maior parcela de investimentos nesse grandioso projeto: o povo brasileiro.