Em uma atitude considerada pouco profissional e extremamente desrespeitosa, o Ministério do Planejamento (MPOG) cancelou pela segunda vez no mesmo dia a reunião que estava marcada com os dirigentes da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF). O encontro aconteceria amanhã (17), às 10 horas, e seria seguido de uma coletiva com a imprensa, às 11 horas. Como justificativa do recuo, o Planejamento informou que não houve acordo com a junta governativa e disse que só volta a se reunir com a entidade após aprovação definitiva do Orçamento, o que deve acontecer só depois do carnaval. O marca e desmarca deixou os servidores irritados. “Não é possível que em seis meses de longas
negociações o governo ainda
não tenha proposta para nossa categoria. Diante dos fatos, temos que considerar esse discurso como algo vazio, feito para enrolar”, disparou Josemilton Costa, secretário-geral da CONDSEF.
O clima de tensão que já tomava conta da categoria aumentou após o cancelamento da reunião, feito pouco depois das 18h30. A expectativa era de que o governo apresentasse as propostas para os servidores representados pela Confederação, mais de 770 mil; 70% do total do Executivo Federal.
Revoltados, os dirigentes da Confederação asseguram que não existe diálogo possível em um ambiente de total desrespeito instalado pelo próprio governo. “Nossa motivação sempre foi a de conversar e chegar a um acordo entre as partes, mas o governo, por sua vez, sempre passa por cima das instâncias e de todas as
discussões feitas com a
categoria”, reclamou Costa.
As atitudes, consideradas de desrespeito, deram ingredientes para fomentar uma grave crise dentro dos setores representados pela Confederação. “Se eles acham que com essa atitude vão conseguir dividir nossa base estão muito enganados. Vamos todos juntos, com força total e unidos, para cima desse governo”, disse o secretário-geral dos servidores em momento de exaltação.
Ação e Reação
O clima de insegurança e incerteza instalado pelo governo está fazendo com que a CONDSEF oriente toda sua base a realizar assembléias nos estados a partir desta segunda-feira (20). “Pela insatisfação e os ânimos exaltados, o movimento deve provocar uma greve histórica, a maior já registrada nos quinze anos da entidade”, assegurou Costa. Toda essa
insatisfação se
deve às expectativas acumuladas ao longo das negociações de 2005 e ainda não atendidas.
Mesmo sem reunião, os servidores da CONDSEF prometem movimentar a Esplanada dos Ministérios nesta sexta-feira (17). Diversos servidores de todos os estados brasileiros estarão em Brasília (DF) para a Plenária Nacional da entidade. Setores do PCC, Funasa, Saúde, civis dos Órgãos Militares, Trabalho, Funai, MEC, Fazenda, Agências Reguladoras, Agricultura, entre outros da base da Confederação estarão representados e reunidos para garantir que o governo Lula não desrespeite o setor que acreditou que, com sua posse, as distorções e problemas graves no serviço público poderiam começar a se resolver.
A CONDSEF voltou a reafirmar que não abre mão dos acordos já firmados com sua base e do
reajuste mantendo a paridade
para o PCC.
A grande maioria dos insatisfeitos amarga arrocho salarial há mais de uma década. O clima de insatisfação pode ser sentido nos discursos de toda a base da Confederação. “Não agüentamos mais. Uma lata de lixo está tendo mais prestígio que os servidores públicos”, disse um servidor do PCC da Agricultura que não quis se identificar. “Hoje, existe uma disposição de irmos para o embate até o fim. Esta base está cansada de ser tratada com descaso e vai levantar sua voz contra o desmonte no serviço público. Não vamos nos omitir”, assegurou Costa.
Momentos decisivos
As últimas semanas de trabalho intenso no Congresso Nacional coordenadas pela entidade se transformaram em cenário de incerteza. Ontem, cerca de duzentos servidores públicos da CONDSEF
acompanharam, até
às 22 horas, o desfecho e aprovação da receita total que, este ano, saltou de R$ 530 bilhões para R$ 545 bilhões.
Otimista, a CONDSEF encarava com empenho a tarefa de pressionar o Congresso Nacional em busca de garantir verba e distribuição justa para o setor. “Bastava agora o governo reconhecer a necessidade de investir nesse setor”, ponderou Costa. “Além de desrespeitosos, consideramos estes cancelamentos uma má vontade de resolver um problema que não atinge apenas os servidores”. O secretário-geral se refere aos brasileiros que estão direta e indiretamente ligados à luta travada pela entidade. “São filhos, esposas, maridos, entre outros que, juntos, ultrapassam milhões. O governo está ignorando esta fatia importante da sociedade”.
A esse grupo somam-se também milhares de aposentados, pensionistas e suas
famílias. Com a
atual política defendida pelo governo, os aposentados estão entre os que mais sofrem com as distorções salariais, pois não têm seu direito à paridade respeitado. “Estamos apreensivos. Esperamos que este governo de fato cumpra com os acordos assumidos em 2005 e assuma com responsabilidade os compromissos firmados com essa categoria. Como tantos outros, depositamos toda nossa esperança em tempos de mudança e, hoje, estamos decepcionados”, concluiu o secretário-geral da CONDSEF.