Rodrigo Maia, o presidente da Câmara que enfrentou timidamente os arroubos autoritários do presidente Jair Bolsonaro, ficou um pouco menor depois de sua entrevista, nesta segunda, 4 de agosto, no programa Roda Viva. Ele, que está engavetando "por enquanto" mais de 50 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, parte deles baseados no seu comportamento negacionista e que, com isso, está levando milhares de brasileiros à morte e as suas famílias ao sofrimento; que considerou frágeis as denúncias contra o ex-presidente Michel Temer (gravado por Joesley Batista em conversas profanas sobre o silêncio de Eduardo Cunha nos porões do Palácio do Jaburu e que teve ainda um assessor filmado pela Polícia Federal correndo com uma mala de dinheiro da JBS pelas ruas de São Paulo). Esse mesmo Rodrigo Maia conseguiu enxergar que as denúncias das pedaladas fiscais contra a presidente Dilma eram graves o suficiente para justificar o seu voto a favor do impeachment.

Essa entrevista mostrou com clareza o fosso em que estamos metidos. Quando o presidente da Câmara – "fada sensata do momento" – profere esse tipo de absurdo, percebemos que o caminho único aberto pelo golpe parlamentar de 2016 é desmontar as conquistas da Constituição de 1988, custe o que custar. Não importam os descalabros feitos em nome disso, pois eles serão sempre aceitos como "frágeis" em vista do ganho maior de "modernizar" o País, justamente pelo líder tido como moderado e que estaria equilibrando a República e “barrando” a agenda obscurantista e destrutiva do presidente.

Vale lembrar que impedir que projetos retrógrados sejam votados é uma postura civilizatória. Uma obrigação para quem se considera um democrata. O que sobraria como legado de sua presidência na Câmara se, além das reformas econômicas do governo Temer, celebradas por ele no Roda Viva (trabalhista, projeto da terceirização, a PEC do teto dos gastos...) e agora a “reforma da previdência”, ainda houvesse a liberação da mineração em terras indígenas? Explorar as terras dos povos originários seria não apenas uma sanção ao genocídio iniciado em 1500, mas também um tiro no pé da imagem do Brasil perante o deus mercado, sem falar que a pauta reacionária de costumes é ideologicamente antiliberal.

Então, barrar pautas sombrias não é suficiente, mesmo nesse momento de tamanha insensatez, para fazer com que os desatinos que vivemos no caminho dessa "modernização" (tão almejada pela elite brasileira e que depois de cinco anos ainda não mostrou resultado positivo para a sociedade), defendida tenazmente no Roda Viva por Rodrigo Maia como a redenção do Brasil, possam ser digeridos e essa fase, comemorada.

A entrevista foi mais esclarecedora do que deveria e mostrou que de onde menos se espera é de lá que não vem nada mesmo.

*Camilo Capiberibe é deputado federal do PSB eleito pelo Amapá.

O Congresso em Foco procurou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para comentar as declarações do deputado Camilo Capiberibe, mas não houve retorno até o momento. Artigo publicado originalmente no site do Congresso em Foco