Erilza Galvão *

Esses Gritos, essas bandeiras, esses projetos se tornam ainda mais primordiais diante da onda de conservadorismo pelo mundo e, particularmente, do golpe em curso no Brasil que corrói, dia a dia, a jovem democracia brasileira e solapa direitos do povo e da classe trabalhadora, conquistados após batalhas árduas, década por década. Assim como esse golpe deturpa, interrompe ou mesmo extingue políticas públicas que buscam garantir a igualdade de oportunidades para pessoas que fazem parte de grupos que enfrentam preconceitos.

A pauta dos movimentos sociais por melhores condições de vida e trabalho, por inclusão social, vem ao encontro das bandeiras históricas de entidades do serviço público como a valorização do serviço público e de seus/suas trabalhadores/as; um serviço público decente e de qualidade, com igualdade de oportunidades.

A incorporação dessa perspectiva, nas ações dos governos, de todas as esferas de poder, é um pressuposto para a redução do preconceito, das discriminações, das desigualdades. Uma Administração Pública, cujas formas de gestão estão longe dessa perspectiva, de uma relação democrática que efetivamente combata práticas e atitudes discriminatórias, contribuem para um processo de trabalho opressor, violento, punitivo; contribuem para competição entre trabalhadores/as e organizações; e mesmo entre os/as trabalhadores/as, reforçando o individualismo, desprezo pelo trabalho em equipe, pela solidariedade, pela tolerância; contribuem para a violência sexista no local de trabalho, o qual é gravíssimo para a saúde física e mental da classe trabalhadora. E é gravíssimo, também, para o próprio trabalho, para as organizações e para os usuários.

Conhecer, refletir, respeitar ações afirmativas que visam neutralizar preconceitos com viés de gênero, raça, etnia, idade, orientação sexual, configura um espectro de desafios para o movimento sindical, quer como entidade, dirigente, militante ou apenas trabalhador da base. No centro desse espectro, uma questão: que o “eu e o outro” tenham direito à vida; uma vida com oportunidades de escolha; com condições dignas de sobreviver, crescer, fazer; uma vida com justiça social.

Uma convivência social onde as condições sociais diferenciadas não sejam elementos para exclusão e sim para referência de identificação e busca de solução para direitos violados, oportunidades negadas, necessidades não satisfeitas; para referência de atitudes e ações, políticas e práticas públicas que incluam, democratizem o acesso a direitos e benefícios.

Como entidade sindical, temos a finalidade central de organizar a classe trabalhadora e defender seus direitos e interesses. Como não podemos ser uma “ilha”, isolados da sociedade, precisamos estar atentos aos problemas da trabalhadora e do trabalhador enquanto membro da sociedade e que tem sexo, cor, gênero, idade, orientação sexual.
Como o fazer e viver social se refletem nas concepções e práticas do cotidiano sindical, a entidade sindical precisa refletir sobre essas especificidades, igualdade de oportunidades, ações afirmativas.

A entidade sindical precisa discutir concepções; exercitar a afirmação e a inclusão em seus espaços de poder; praticar a igualdade; considerar as subjetividades da classe trabalhadora; prepara-la para ser sujeito da sua história, com capacidade crítica das políticas sociais/ públicas.

* Erilza Galvão é diretora titular da Secretaria de Gênero, Raça, Etnias e Contra Opressões na Condsef/Fenadsef